Hugo Viana a trabalhar na “sombra” para evitar insónias

Director do futebol “disputado” por Newcastle e Manchester United assume-se como principal aliado de Rúben Amorim no sucesso do futebol “leonino”.

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Hugo Viana Jan Kruger
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Oito anos depois de ter encerrado a carreira de futebolista no Al Wasl dos Emirados Árabes Unidos, Hugo Viana acrescenta agora o título de campeão nacional de 2023-24 aos seis troféus já somados enquanto dirigente do Sporting, triplicando as conquistas (uma Taça de Portugal e um campeonato) enquanto jogador.

O antigo médio internacional português, considerado em 2002 pelo site italiano “calciomercato” o melhor jogador jovem da Europa (com 19 anos), desempenha desde 2018 papel crucial na construção das bases para o sucesso e para este 20.º título de campeão do emblema de Alvalade.

Rúben Amorim, com quem jogou no Sp. Braga entre as épocas de 2011 e 2013, fez por diversas ocasiões questão de creditar todos os louros ao agora dirigente, tecendo rasgados elogios ao trabalho de Hugo Viana. De resto, o técnico prometeu, coloquialmente, em conversa com os media, ficar a dever um jantar ao homem que lhe garante noites mais tranquilas, sem insónias nem pesadelos.

O treinador “leonino”, que iniciou a carreira técnica no Casa Pia no mesmo ano em que Hugo Viana chegava ao Sporting pela mão de Frederico Varandas, assumiu em algumas conferências de imprensa o “sossego” de ter no antigo companheiro de campo um hábil negociador, capaz de “vender o projecto” de um clube que terminou a época anterior na quarta posição a jogadores como Viktor Gyökeres, oriundos da Premier League, e a outros com o futebol inglês no horizonte.

Uma curiosidade que remonta a 2018, altura em que Hugo Viana, já no papel de director desportivo, saltou de um ano de "estágio" no Restelo directamente para Alvalade, onde, em Setembro, começou por assumir as funções de director de relações internacionais… Era o primeiro degrau de uma escada que não tardou a ascender.

Keizer foi mola propulsora

A participação de Hugo Viana na contratação do treinador neerlandês Marcel Keizer projectou-o para o cargo então ocupado por Beto Severo, antigo defesa-central do clube que passou a “team manager”, com Frederico Varandas a acumular a presidência com a função de responsável máximo pelo futebol.

Hugo Viana acrescentava uma nova camada de vivências internacionais, adquiridas desde muito jovem, quando em 2002 protagonizou a maior transferência mundial, cifrada em 12,5 milhões de euros, de um jogador de 19 anos para o Newcastle de Bobby Robson, fruto da campanha no Europeu de sub-21, na Suíça. Seguir-se-ia a convocatória inesperada para o Mundial do Japão e Coreia do Sul, onde substituiu Daniel Kenedy, excluído a poucos dias do arranque do Mundial após um teste positivo em controlo antidoping.

Logo depois, Viana foi apresentado em St. James Park, onde brilhava o goleador Alan Shearer, com os “magpies” a superarem a concorrência de Liverpool, Juventus, Lazio, AC Milan e Celta de Vigo (clube que defrontou no jogo que lhe valeria a estreia oficial pelo Sporting, com 18 anos, ante o Midtjylland, na Liga Europa).

Espanha, com passagem por Valência, e Emirados Árabes Unidos foram paragens que terão contribuído para enriquecer a lista de contactos e apurar a vocação indispensável para planear e construir um plantel. Uma certa forma de arte quando os projectos dependem, em larga medida, da capacidade de vender os activos mais valiosos, como sucedeu em 2022 com as saídas de Porro, Sarabia, Palhinha e Matheus Nunes.

Hugo Viana, promovido a director de todo o futebol “leonino” em Maio de 2023, tem agora responsabilidades acrescidas no que diz respeito à articulação de todos os escalões do Sporting, missão que exige sensibilidade e coragem.

Newcastle no horizonte?

Algo que poderá ser testado mais uma vez no curto prazo, quando poderá ser confrontado com nova decisão pessoal. Os méritos do trabalho desenvolvido em Alvalade ultrapassaram fronteiras e no horizonte próximo poderá estar um regresso a Newcastle, emblema que procura um director desportivo para preencher o lugar de Dan Ashworth, suspenso desde o início do ano após ter sido dado como futuro responsável do Manchester United.

Os cerca de 23 milhões de euros exigidos pelos “magpies” para libertarem Ashworth poderão, inclusive, levar o Manchester United a disputar Hugo Viana, visto como um dos preferidos para a posição.

Em jeito de carta de recomendação, Hugo Viana pode apresentar um balanço do que tem sido o trabalho no Sporting. A começar pela contratação de Rúben Amorim, dossier em que terá certamente contribuído para um negócio de alto risco, ao apostar num treinador com apenas nove jogos realizados no escalão principal.

Em matéria de reforços para o plantel, destaque para alguns nomes relevantes, desde Paulinho a Matheus Reis, sem esquecer Marcus Edwards, Ugarte (agora no PSG), Diomandé e, mais recentemente, Hjulmand e Gyökeres, cruciais para a conquista do 20.º campeonato.

Claro que Hugo Viana também errou. Houve apostas falhadas, pelos mais variados motivos, como acontece em todos os clubes. Mas o traço de carácter em que precisa de melhorar diz respeito à conduta em alguns momentos quentes, com altercações que lhe valeram processos instaurados pelo Conselho de Disciplina e inúmeras notícias que poderá evitar no futuro.

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